2007/08/24

Ninguém quer

Folha Dirigida, 23/08/2007 - Rio de Janeiro RJ
Antonio Luiz Mendes de Almeida

Abro a coluna para revelar que, embora, como já proclamado, tenha uma relação afetuosa com as palavras, cultivando-as com carinho, não encontro a correta, adequada, suficiente, completa, definitiva para externar meus sentimentos diante do Parapan: Admiração? Surpresa? Respeito? Superação? Solidariedade? Espanto? Exemplo? Reação? Vergonha preconceituosa? Não sei, talvez seja uma mistura delas todas, mas me emocionei, comovi-me com as demonstrações de garra, bom-humor, simplicidade, conquista, naturalidade, nenhuma queixa, alegria, sorrisos e muitas medalhas ornando os peitos justamente orgulhosos de suas façanhas. A lamentar a insensibilidade da iniciativa privada que não patrocinou como devia os jogos, incapaz de ver o retorno evidente face à magnitude da causa, que se, por acaso, não fosse contabilizada como lucro, permaneceria eternamente gravada nos corações e mentes, receberia a gratidão dos participantes e o reconhecimento do público. As empresas perderam a oportunidade de demonstrarem ter responsabilidade social. Infelizmente, nenhuma a tem...

Faço parágrafo e, iniciado o semestre, continuo a ver que a educação agoniza e nada se faz. Não existe qualquer movimento de reação e talvez nunca o setor tenha estado em mãos tão ruins. O MEC lançando planos inviáveis, cheios de tabelas e exigências estapafúrdias, avaliações esotéricas, não cogitando de parcerias produtivas e procurando justificar os últimos lugares que ocupamos no ranking das nações, sem falar na interferência indébita do executivo e sua pregação demagógica que visa estiolar os esforços da iniciativa privada, no que é secundado pelo judiciário e suas sentenças absurdas, evidenciando total desconhecimento da matéria sobre a qual se pronuncia com empáfia irritante e estultice gritante. Mais do que isso, assusta-me o total alheamento do alunado que transformou a escola e a universidade em um rito obrigatório, enfadonho, a ser cumprido com o menor esforço possível. Para isso, conta com a ajuda de corpos docentes também desinteressados, acumulando dedicações exclusivas que não cumprem e se tornando cúmplices do alunado, um lado não aborrecendo o outro. O ensino está muito fraco, sem exigências e sem cobranças. Com a vida difícil obrigando o casal a trabalhar, os pais entregam o estudante à instituição transformada em depósito, como várias vezes tenho escrito, e não se preocupam com o que está sendo ensinado. O estudante fica solto para escolher o rumo que melhor lhe aprouver e as tentações são grandes nesta sociedade insegura e que se tornou libertina. A televisão invade os lares, trazendo sempre, além das más notícias costumeiras (que terminam com um ofensivo "boa-noite..."), a violência e a licenciosidade em todos os horários, maculando a pureza e gerando conflitos comportamentais. Se a família se desagrega, a escola seguiu o mesmo destino e afrouxou normas de disciplina, não mais educa, e, igualmente, reduziu as obrigações. A falência do ensino público e a campanha contra a escola particular criaram esse vácuo de responsabilidade, seja pela falta de meios seja pelo desânimo e irritação que sórdidas questiúnculas, fomentadas pelos que se alimentam de crises fabricadas, inoculam no relacionamento que deveria ser amistoso e produtivo. A escola pública não existe e a particular é apontada como inimiga. Foi-se o tempo do convívio e do respeito em que o estabelecimento de ensino era um ambiente sadio em que se fortaleciam amizades, recebíamos lições inesquecíveis, crescíamos com exemplos, aprendíamos a lidar com a vida e, fundamentalmente, integrávamos uma comunidade. A escola (mesmo sendo cruel...) representava um momento importante, motivo de orgulho, um anseio, uma passagem que ficava gravada no coração e da qual, nas formaturas solenes – não a bagunça de hoje – nos despedíamos emocionados, mas nos sentindo preparados para continuar. Atualmente, quebraram-se os liames, sumiram vocações, terminou a cordialidade, criaram-se conflitos, mercenarizaram-se o ensino e os professores, a escola se tornou imperativa e exploradora, as amizades não mais existem, a convivência transformou-se em embates diários e cada parte procura a melhor forma de enganar a outra, com o fingimento presidindo o relacionamento e as decisões. É tudo falso, o aluno não aprende nem quer, o professor não ensina nem quer, a autoridade não promove a educação nem quer. O clima é esse, infelizmente, provocando decepções aos bem formados e desestimulando aqueles que ainda cultivavam ideais de outros tempos. Foi-se o tempo e foram-se os ideais.
P.S.: Quando o ex-operário, guindado à presidência do país, abandona os discursos escritos pelos assessores (como o artigo que ele assinou e que, pelo jeito, nem leu, afinal seria uma grande esforço...) temos a certeza de que os improvisos, além das costumeiras agressões ao idioma, trarão conceituações estranhas, ridículas, afirmações mirabolantes. Agora (como me refiro à semana passada, deve ter havido outras...) equiparou o assistencialismo demagógico e eleitoreiro do bolsa-família com a bolsa de estudos que representa importante investimento no futuro para o avanço tecnológico, científico e cultural e que não atende somente aos bem-nascidos, cabendo frisar que tem prazo estipulado e cobrança de resultados. O bolsa-família é, em tese, um programa elogiável e necessário, mas tem sido desvirtuado, transformando-se, ao contrário do devido, em incentivo à indolência e não à busca da dignidade, ao encontro do trabalho que redime. A grande meta do bolsa-família seria a de, a cada ano, reduzir os agraciados porque se inseriram na força produtiva, passaram a receber salário e não esmola. Mas como os reais distribuídos compram votos e sustentam a popularidade que massageia o ego inflado de Sua Excelência, é lógico que nada se modificará. E o que dizer das indenizações e pensões dos que trocaram o presuntivo idealismo pelas moedas, muito mais de trinta? Sua Excelência também belisca da benesse acintosa.

2007/08/21

Falhas da universidade

Publicado em Estado de Minas, 21/08/2007 - Belo Horizonte MG
João Luís Almeida Machado, Professor universitário, pesquisador, mestre em educação, arte e história da cultura, editor do portal Planeta Educação

Um olhar crítico sobre a vida universitária no Brasil leva-me à triste conclusão de que, salvo honrosas exceções, as universidades que temos aqui não conseguiram construir uma mentalidade acadêmica producente, como a que existe e vigora na Europa, no Japão e nos Estados Unidos. Percebo, claramente, que a falta de uma vida acadêmica nos moldes tradicionais, algo próximo daquilo que vemos em outros países, não permite aos nossos estudantes da graduação uma real imersão no espírito de pesquisa, formação, estudos acadêmicos e aperfeiçoamento profissional, humano e técnico que as universidades deveriam proporcionar-lhes. E o que quero dizer com vida acadêmica? Refiro-me a uma vivência que leve o aluno a estudar com vigor, a freqüentar a biblioteca da instituição, a fazer pesquisas de campo, a participar de aulas práticas com regularidade, a ter aulas que lhes cobrem o máximo de aprofundamento e dedicação e a envolver-se com eventos culturais e científicos promovidos nos câmpus. É verdade que as universidades federais e algumas particulares perseguem a aura de instituições reconhecidas pela qualidade de seus cursos e produtividade científica. Muitas têm como propósito consolidar a qualidade no ensino superior brasileiro. Ainda assim, falta no Brasil a cultura educacional que permite a formação integral de profissionais capacitados a ingressar no mercado. Os rumos da educação demandam seriedade e comprometimento das autoridades. Creio que a via prioritária para que qualquer país se emancipe econômica, social, política e culturalmente passa pela educação de qualidade, em todos os níveis. Nesse sentido, é preciso destacar que as novas instituições privadas de ensino universitário surgidas nos últimos 15 anos no Brasil também devem repensar suas estruturas. Essas universidades ou faculdades carecem de maior preocupação com a qualificação do corpo docente. A entrada para o ensino de qualidade também passa pela incorporação das tecnologias e pela melhoria da infra-estrutura, mas é essencial que o trabalho dos educadores seja prestigiado e que o corpo docente dessas instituições seja formado por mestres e doutores. Reina entre elas, infelizmente, uma mentalidade mercantilista. Oferecem um belo cartão de visitas, mas procuram economizar na contratação dos docentes. Não podemos também nos esquecer de que aos estudantes compete encarar com seriedade os estudos na universidade, o que não ocorre em muitos casos. A graduação não é uma continuidade do ensino médio. É a porta de entrada para o mundo do trabalho, em que serão exigidos ao máximo. A avaliação dos alunos, realizada no ensino superior, tem que ser mais rigorosa, tendo por base a leitura, a participação em sala de aula, em pesquisas e o grau de comprometimento com o saber. E os universitários têm também de partilhar, com maturidade, dessas exigências (que caso não sejam feitas pela instituição e pelos docentes, devem ser cobradas pelos estudantes). Se a formação for deficiente e ainda assim os graduandos forem aprovados, o custo maior será pago por esses jovens, quando tentarem ingressar no mercado de trabalho, no qual acabarão sendo irremediavelmente reprovados.

2007/08/17

Bakunim

Fato ocorrido em 1892

Um senhor de 70 anos viajava de trem tendo ao seu lado um jovem universitário, que lia o seu livro de ciências. O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta. Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia, e estava aberta no livro de Marcos. Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:
- O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?
- Sim. Mas não é um livro de crendices é a Palavra de Deus. Estou errado?
- Claro que está! Creio que o senhor deveria estudar a história geral. Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda crêem que Deus criou o mundo em seis dias. O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os cientistas dizem sobre isso.
- É mesmo? E o que dizem os cientistas sobre a Bíblia?
Bem, respondeu o universitário, vou descer na próxima estação, mas deixe o seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio.
O velho então, cuidadosamente, abriu o bolso interno do paletó, e deu o cartão ao universitário. Quando o jovem leu o que estava escrito saiu cabisbaixo se sentindo pior que uma ameba. O cartão dizia: "Louis Pasteur, Diretor do Instituto de Pesquisas Científicas da École Normale de Paris".

"Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima." Louis Pasteur .

2007/08/07

Verdade


Uma sábia e conhecida história diz que, certa vez, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho.

- Que desgraça, senhor! - exclamou o adivinho - Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.

- Mas que insolente! - gritou o sultão enfurecido - Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui!

Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem açoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho. Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:

- Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes.

A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao adivinho. Quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:

- Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem açoites e a você com cem moedas de ouro.

- Lembra-te meu amigo - respondeu o adivinho - que tudo depende da maneira de dizer as coisas... Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra. Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta dúvida. Porém, a forma com que ela é comunicada é que pode provocar grandes problemas.

A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta, mas, se a envolvermos em delicada embalagem, e a oferecermos com ternura, certamente será aceita com felicidade.

2007/08/05

Para reflexão

"Não existe grandeza onde não há simplicidade, bondade e verdade"

Leon Tostoy

2007/08/02

A ARTE DE JULGAR OS OUTROS

Eram dois vizinhos. Um deles comprou um coelho para os filhos.

Os filhos do outro vizinho também quiseram um animal de estimação. E os pais desta família compraram um filhote de pastor alemão. Então começa uma conversa entre os dois vizinhos:

- Ele vai comer o meu coelho!
- De jeito nenhum. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos, "pegar" amizade!!!

E, parece que o dono do cão tinha razão. Juntos cresceram e se tornaram amigos. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianças, felizes com os dois animais.

Eis que o dono do Coelho foi viajar no fim de semana com a família, e o coelho ficou sozinho. No domingo, à tarde, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche tranqüilamente, quando, de repente, entra o pastor alemão com o coelho entre os dentes, imundo, sujo de terra e morto.

Quase mataram o cachorro de tanto agredí-lo, o cão levou uma tremenda surra! Dizia o homem: - O vizinho estava certo, e agora? Só podia dar nisso!

Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora?!? Todos se olhavam. O cachorro, coitado, chorando lá fora, lambendo os seus ferimentos. - Já pensaram como vão ficar as crianças? Não se sabe exatamente quem teve a idéia, mas parecia infalível: - Vamos lavar o coelho, deixá-lo limpinho, depois a gente seca com o secador e o colocamos na sua casinha.

E assim fizeram. Até perfume colocaram no animalzinho. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças. Logo depois ouvem os vizinhos chegarem. Notam os gritos das crianças.

- Descobriram!

Não passaram cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta assustado. Parecia que tinha visto um fantasma.

- O que foi? Que cara é essa?
- O coelho, o coelho...
- O que tem o coelho? Morreu! Morreu? Ainda hoje à tarde parecia tão bem.
- Morreu na sexta-feira!
- Na sexta?
- Foi. Antes de viajarmos, as crianças o enterraram no fundo do quintal. E agora reapareceu!

A história termina aqui. O que aconteceu depois fica para a imaginação de cada um de nós. Mas o grande personagem desta história, sem dúvida alguma, é o cachorro.

Imagine o coitado, desde sexta-feira procurando em vão pelo seu amigo de infância. Depois de muito farejar, descobre seu amigo coelho morto e enterrado. O que faz ele? Provavelmente com o coração partido, desenterra o amigo e vai mostrar para seus donos, imaginando o fizessem ressuscitá-lo. E o ser humano continua julgando os outros.

Outra lição que podemos tirar desta história é que o homem tem a tendência de julgar os fatos sem antes verificar o que de fato aconteceu. Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade? Histórias como essa, são para pensarmos bem nas atitudes que tomamos. Às vezes fazemos o mesmo...