2007/05/31

Adágios populares

CALCANHAR DE AQUILES
De acordo com a mitologia grega, Tétis, mãe de Aquiles, a fim detornar seu filho indestrutível, mergulhou-o num lago mágico,segurando-o pelo calcanhar. Na Guerra de Tróia, Aquiles foi atingidona única parte de seu corpo que não tinha proteção: o calcanhar.Portanto, o ponto fraco de uma pessoa é conhecido como calcanhar deAquiles.
VOTO DE MINERVA
Orestes, filho de Clitemnestra, foi acusado pelo assassinato da mãe.No julgamento, houve empate entre os acusados. Coube à deusa Minerva ovoto decisivo, que foi em favor do réu.Voto de Minerva é, portanto, o voto decisivo.
CASA DA MÃE JOANA
Na época do Brasil Império, mais especificamente durante a menoridadedo Dom Pedro II, os homens que realmente mandavam no país costumavamse encontrar num prostíbulo do Rio de Janeiro, cuja proprietária sechamava Joana. Como esses homens mandavam e desmandavam no país, afrase casa da mãe Joana ficou conhecida como sinônimo de lugar em queninguém manda.
VÁ SE QUEIXAR AO BISPO!
Durante o Brasil Colônia, a fertilidade de uma mulher era atributofundamental para o casamento, afinal, a ordem era povoar as novasterras conquistadas. A Igreja permitia que, antes do casamento, osnoivos mantivessem relações sexuais, única maneira de o rapazdescobrir se a moça era fértil. E adivinha o que acontecia na maioriadas vezes? O noivo fugia depois da relação para não ter que se casar.A mocinha, desolada, ia se queixar ao bispo, que mandava homens paracapturar o tal espertinho.
CONTO DO VIGÁRIO
Duas igrejas de Ouro Preto receberam uma imagem de santa comopresente. Para decidir qual das duas ficaria com a escultura, osvigários contariam com a ajuda de Deus, ou melhor, de um burro. Onegócio era o seguinte: colocaram o burro entre as duas paróquias e oanimalzinho teria que caminhar até uma delas. A escolhida peloquadrúpede ficaria com a santa. E foi isso que aconteceu, só que, maistarde, descobriram que um dos vigários havia treinado o burro. Dessemodo, conto do vigário passou a ser sinônimo de falcatrua emalandragem.
FICAR A VER NAVIOS
Dom Sebastião, rei de Portugal, havia morrido na batalha deAlcácer-Quibir, mas seu corpo nunca foi encontrado. Por esse motivo, opovo português se recusava a acreditar na morte do monarca. Era comumas pessoas visitarem o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, para esperarpelo rei. Como ele não voltou, o povo ficava a ver navios.
NÃO ENTENDO PATAVINAS
Os portugueses encontravam uma enorme dificuldade de entender o quefalavam os frades italianos patavinos, originários de Pádua, ouPadova, sendo assim, não entender patavina significa não entendernada.
DOURAR A PÍLULA
Antigamente as farmácias embrulhavam as pílulas em papel dourado, paramelhorar os aspecto do remedinho amargo. A expressão dourar a pílula,significa melhorar a aparência de algo.
CHEGAR DE MÃOS ABANANDO
Há muito tempo, aqui no Brasil, era comum exigir que os imigrantes quechegassem para trabalhar nas terras trouxessem suas própriasferramentas. Caso viessem de mãos vazias, era sinal de que não estavamdispostos ao trabalho. Portanto, chegar de mãos abanando é nãocarregar nada.
SEM EIRA NEM BEIRA
Os telhados de antigamente possuíam eira e beira, detalhes queconferiam status ao dono do imóvel. Possuir eira e beira era sinal deriqueza e de cultura. Não ter eira nem beira significa que a pessoa épobre, está sem grana.
ABRAÇO DE TAMANDUÁ
Para capturar sua presa, o tamanduá se deita de barriga para cima eabraça seu inimigo. O desafeto é então esmagado pela força. Abraço detamanduá é sinônimo de deslealdade, traição.
O CANTO DO CISNE
Dizia-se que o cisne emitia um belíssimo canto pouco antes de morrer.A expressão canto do cisne representa as últimas realizações dealguém.
ESTÔMAGO DE AVESTRUZ
Define aquele que come de tudo. O estômago do avestruz é dotado de umsuco gástrico capaz de dissolver até metais.
LÁGRIMAS DE CROCODILO
É uma expressão usada para se referir ao choro fingido. O crocodilo,quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu da boca,comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele chora enquanto devora avítima.
MEMÓRIA DE ELEFANTE
O elefante lembra de tudo aquilo que aprende, por isso é uma dasprincipais atrações do circo. Diz-se que as pessoas que se recordam detudo tem memória de elefante.
OLHOS DE LINCE
Ter olhos de lince significa enxergar longe, uma vez que esses bichostêm a visão apuradíssima. Os antigos acreditavam que o lince podia veratravés das paredes.

Eternidade

"Fitar o rio feito de tempo e água
E recordar que o tempo é outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.
Sentir que a vigília é outro sonho
Que sonha não sonhar e que a morte
Que teme nossa carne é essa morte
De cada noite, que se chama sonho.
No dia ou no ano ver um símbolo
Dos dias de um homem e de seus anos,
Transformar o ultraje desses anos
Em música, em rumor e em símbolo,
Na morte ver o sonho, ver no ocaso
Um triste ouro, tal é a poesia,
Que é imortal e pobre. A poesia
Retorna como a aurora e o ocaso.
Às vezes pelas tardes certo rosto
Contempla-nos do fundo de um espelho;
A arte deve ser como esse espelho
Que nos revela nosso próprio rosto.
Contam que Ulisses, farto de prodígios,
Chorou de amor ao divisar sua ÍtacaVerde e humilde.
A arte é essa Ítaca
De verde eternidade, sem prodígios.
Também é como o rio interminável
Que passa e fica e é cristal de um mesmo
Heráclito inconstante, que é o mesmo
E é outro, como o rio interminável. Jorge Luis Borges

Regard the river made of time and water
And remember that time is another river,
Know that we get lost like the river
And that the faces flow like water.
Feel that the vigil is another dream
That dreams not to dream and that death
Which fears our flesh is this death
Of each night, that is called dream.
At the day or at the year see a symbol
Of the days of a man and of his years,
Transform the outrage of these years
In music, in rumor and in symbol,
Upon death see the dream, see at chance
A sad gold, such is poetry,
That is immortal and poor.
The poetryReturns as dawn and chance.
Sometimes during the afternoons a certain face
Watches us from the deep end of a mirror;
Art should be like this mirror
That reveals unto us our own face.
It is told that Ulysses, tired of prodigies,
Cried tear of love upon the sight of his ItacaGreen and humble.
Art is this ItacaOf green eternity, without prodigies.
Also is like the unending river
That passes and stays and is crystal of a same
Unstable Heraclitus, that is the same
And is other, as the unending river." Jorge Luis Borges (free translation)

2007/05/12

dimensões do passado

Quando menino, eu temia que o espelho
Me mostrasse outro rosto ou uma cega
Máscara impessoal que ocultaria
Algo na certa atroz. Temi também
Que o silencioso tempo do espelho
Se desviase do curso cotidiano
Dos horários do homem e hospedasse
Em seu vago extremo imaginário
Seres e formas e matizes novos.
(Não disse isso a ninguém, menino tímido.)
Agora temo que o espelho encerre.
O verdadeiro rosto de minha alma,Lastimada de sombras e de culpas,
O que Deus vê e talvez vejam os homens." Jorge Luis Borges"

When I was a boy. I feared that the mirror
Could show me another face or a blind
Impersonal mask that would hide Something certainly atrocious. I feared also
That the silent time of the mirror
Could deviate from the routine course
Of man's hours and could host
In its vague imaginary extreme
New beings and forms and shades.
(I didn't tell this to anyone, shy boy.)
Now I fear that the mirror holds
the true face of my soul,
Hurt by shadows and guilt,
That God sees and maybe men do."
Jorge Luis Borges (free translation)

2007/05/05

900 anos

Onde estive nos últimos 900 anos? Onde estarei nos 9 séculos vindouros?

O que cruza as fronteiras, distorce o tempo e o espaço? O que é ser eterno?

Sem chegar sequer a contagem de um milênio, o que pode perpetuar mais do que pensamentos e sentimentos?

Se não houver pessoas, nada disso importa. Menos, ainda, se os que restarem forem de caráter menor.

O Idiota

Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia.

Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 2000$ e outra menor, de 400$. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.

Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

- Eu sei, respondeu o não tão tolo assim. Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda."
Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa.

A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.
A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história?
A terceira: Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.

Mas a conclusão mais interessante é: a percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito. Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, o que realmente somos. "O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente".

"Existem apenas duas coisas infinitas - o Universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao Universo." Albert Einstein